Na sexta feira (09/04), chegou ao fim mais uma saga da nossa teledramaturgia, vulgo: novela. Amor de Mãe foi um misto de tudo: Atuações magníficas, medianas e também ruins. Emoções a flor da pele, mas também cenas que tentaram impor uma emoção singular, porém, se tornaram cenas que não tocaram em nada o público. Acertos e Erros. E muito mais. Venha comigo nessa viagem analisando alguns pontos da novela. Boa leitura!
O começo:
Lurdes, mãe de 4 filhos, Magno (Juliano Cazarré), Ryan (Thiago Martins), Érica (Nanda Costa) e Camila (Jéssica Ellen), e mulher de um marido vagabundo - cachaceiro. Lurdes não leva uma vida muito boa em Malaquitas (RN), mas mesmo com todas as dificuldades, ela enfrenta a vida com todas as forças. Em um ato de desespero pra alimentar o vício, seu marido vende o filho mais novo pra poder comprar a sua cachaça. Ela vai para o Rio de Janeiro e começa a sua busca por Domênico/Danilo (Chay Suede).
Não saberia dizer se na vida existe tanta coincidência assim, mas teve vários momentos na trama em que se fosse na vida real, Lurdes e Domênico já estariam felizes para sempre.
Thelma (Adriana Esteves), uma mãe apaixonada pelo filho e com uma doença terminal, luta com todas as forças para dar uma vida boa ao único “filho” (comprado na maternidade) após um incêndio atingir a sua casa, tirando a vida de seu marido e filho.
Ela ganhou a simpatia do público pelo seu jeito doce e amoroso de ser, principalmente com Danilo (Chay Suede).
A aneurisma que ela tem comoveu todo o público da novela, mas também foi nessa descoberta que ela se mostrou ter uma outra personalidade. Mentiras e mais mentiras começaram a ganhar espaço nas conversas entre ela e seu filho Danilo.
Achei que também faltou um pouco de criatividade da autora quando definiu o fim de Thelminha. Esperava ela aprofundar mais no tema da doença que Thelma sofria. Foi uma ótima oportunidade de falar sobre isso, já que boa parte da população desconhece os sintomas da doença.
A aneurisma dela estourou depois de uma forte emoção que sentiu ao ver seu filho Danilo dando uma entrevista na televisão. Mas convenhamos, emoções e momentos mais fortes aconteceram em sua trajetória para estourar a sua aneurisma. Resumindo, quem começou acompanhar a história no meio não ia saber que ela estava sofrendo de uma doença terminal.
Álvaro (Irandhir Santos)
Prepotente, arrogante e ignorante são os adjetivos para este personagem. Mas foi neste personagem que a autora escolheu falar de um assunto em alta: Empresas corporativas versos Sustentabilidade/ preservação do meio ambiente.
Um empresário que coloca o dinheiro em primeiro plano para tudo, mostrando que o dinheiro vale mais do que qualquer outra coisa, como: saúde, amor e respeito.
A cena clichê no qual ele é baleado na PWA, empresa no qual era presidente... -pra você entender a cena: Raul (Murilo Benício) e Álvaro, que está armado, começam uma briga e um disparo se ouve, ileso Álvaro morre- ...só mostrou um pouco da falta de repertório da autora em seus desfechos. Se voltarmos alguns capítulos anteriores, vamos ver a mesma cena, no qual a disputa pela vida era entre Lurdes e Thelminha (sem consequências fatais).
Ele mereceu a morte como pagamento das suas maldades? Acho que não. Mas é sempre muito cômodo para o/a autor(a) matar um personagem e resolver qualquer problema.
Mas o que se diz envolvendo Álvaro, muito me chamou atenção a polícia não agir com rapidez. Ele transitava tranquilamente por todos os cantos, tanto em sua residência quanto na empresa, sem ao menos ter a proximidade da polícia nesses lugares óbvios em que Álvaro certamente passaria.
Núcleos sem importância:
Leila (Aretha Corrêa) e Penha (Clarissa Pinheiro) de repente se viram perdidas na trama. A autora não sabia o que fazer com elas, tanto que pra dar um pouco de destaque, deu um final feliz amorosamente as duas -sem um prévio aviso ao público- vai de você leitor decidir se a surpresa caberia dentro do momento (o que eu quero dizer é que: foi algo pontual, sem um prévio contexto desse romance. Mostrando como a autora realmente não sabia o que fazer com elas). Belizário (Tuca Andrade) também é aquele personagem ponte que já estava sem função, afinal quem ele precisava matar não matou, então seu fim foi dado por alguém do seu lado, Penha. Esse núcleo é aquele que já não tinha mais serventia na trama, mas que não poderia ser eliminado assim, do nada.
Verena (Maria), também foi aquela personagem que podia ter tido mais destaque. Mas a autora focou muito no Álvaro e em sua amante Estela (Letícia Lima), deixando Verena completamente de escanteio. Entendo que ficou prejudicada por conta da pandemia, já que, o que foi pensado para ela era a carreira de funkeira. Mas não justifica, já que as “lives” na internet estão em alta e poderia ter focado nessa parte para personagem.
Já que falamos de Estela (Letícia Lima), com o caso resolvido antes da parada, Manuela Dias (Autora) mostrou que realmente não queria envolve-la em mais nada na história, depois da parada, na segunda parte da novela durante a pandemia do coronavírus. Antes da pandemia, a autora tinha projetos para ela, já que estava com cara de que ia ser mais uma vilã.
Como bem foi falado, a volta da novela foi tudo muito corrido e autora resolveu os problemas dos personagens sem relevância, assim óh! Num piscar de olhos matando-os.
Tales (Alejandro Claveaux), o verdadeiro cara que faz mulheres ricas se apaixonarem por ele para dar o golpe nas mesmas, sumiu da trama sem muita cerimônia. Estela e Tales, que eram cúmplices um do outro, sumiram na mesma cena. Tales foi embora e Belizário executou Estela ali mesmo, na praia onde estava curtindo a sua vida de luxo.
Melhor Atriz
Regina Casé. A sua entrega na novela foi uma aula para a nova geração. Muito me emocionei com ela. Muito ri e me diverti também com ela. Ela representou a verdadeira mãe. A escolha da Atriz para a personagem não poderia ter sido melhor. Nessa a direção de núcleo acertou em cheio.
Melhor ator
Humberto Carrão é outro que se entregou demais com seu personagem, Sandro. Isso só mostrou a evolução do ator nos últimos anos. Hoje, é um dos principais nomes da sua geração. Ele vem numa crescente tão boa na carreira, que já está escalado para outra novela.
Melhor Atriz Coadjuvante.
Adriana Esteves. Só não leva como melhor atriz, porque Lurdes e Regina Casé casou perfeito. Mas a Thelminha também tinha muita coisa a ser explorado e a Adriana fez isso com uma maestria ímpar. Obs: A atriz interpretou duas personagens que levam nomes no diminutivo e que foram grandes sucessos nos últimos dez anos: Carminha (Avenida Brasil-2012) e Thelminha (Amor de Mãe-2019). Uma brincadeirinha: estaria ela sendo rotulada pelas vilãs com nomes no diminutivo? hehehehe.
Melhor Ator Coadjuvante.
Chay Suede. Personagem nada fácil de fazer. Tem um jeito peculiar de ser. Passou por muita coisa, momentos bons e ruins, e pela sua personalidade ser muito instável, que foi tendo essa mudança conforme foi descobrindo as mentiras de sua mãe Thelminha, foi deixando o personagem inseguro em seus altos e baixos.
Um destaque especial.
Enrique Diaz que interpretou o Durval também deu um ar engraçado e leve pra trama. Confesso pensar que teria vida curta na história. Demorou muito para autora encontrar o ponto dele no enredo e quando encontrou... aí foi sem medo. Ator e Personagem, outro casamento que deu muito certo. Me diverti muitos com suas frases incompletas, jeito peculiar e ao mesmo tempo engraçado e gostoso de ver, deu um lado cômico na novela.
Curiosidades
Vladimir Brichta e Adriana Esteves são casados na vida real, mas na novela, eles não contracenaram juntos.
Por alguns capítulos na novela, Murilo Benício e Antônio Benício, Pai e Filho respectivamente, contracenaram como pai e filho. Vinícius morreu no colo do pai Raul. Murilo Benício confessa que se emocionou de verdade na gravação.
Trilha sonora.
Foi um misto do funk ao blues. Isso deixou o público confuso em muitos momentos da trama. Talvez fosse proposital os personagens não terem sua trilha sonora individual, ou seja, uma música é de todos. Mas o Durval ganhou sua trilha única e marcante com a canção de Jorge Bem Jor – Brother.
Pontos fracos.
Gostaria de focar em dois momentos cruciais para a novela envolvendo a mesma personagem. Vitória, senti que a autora incluiu essa personagem como sendo uma das protagonistas, mas por muito tempo deixou ela de lado. Manuela dias, autora, resolveu a vida da personagem muito rápido. E ela passou a ser mais uma personagem.
E seguindo essa linha de pensamento, ela tentou salvar a personagem com uma medalha de honra ao mérito quando designou a ela duas situações que na vida real ninguém faria. Poderia ter dado certo? Talvez. Se a cena fosse bem melhor pensada, poderia.
Bom, vamos aos pontos: Estou falando da cena que ela resolve entrar no cativeiro onde Álvaro está escondido, num lugar escuro e isolado, completamente desarmada e sem conhecer o lugar. Ela perdeu a oportunidade de matar Vitória ali. Digo isso porque na vida real ninguém faria isso e se fizesse, com certeza não sairia vivo.
E o outro ponto é quando no penúltimo capitulo aparece a mãe biológica do Tiago. Se tivesse tempo pra resolver essa situação, beleza! Mas ela atropelou vários processos deixando o público perceber que ela estava mesmo, muito perdida no roteiro. E alguns erros claros, mas são compreensivos: A mesma (Mãe biológica de Thiago) entra na casa sem máscara, não passa álcool nas mãos e também se senta no sofá. Outro sintoma que mostra a correria que ela estava tendo para resolver este caso.
Pra finalizar, acreditava que seria, e tinha tudo pra ser, a novela da década. Mas temos que ser compreensivos, a novela teve apenas 125 capítulos, quando uma novela para esse horário geralmente bate na casa dos 170, 180 capítulos. A pandemia mudou o rumo de muitos personagens e sem tempo de respirar, os deslizes vão acontecer mesmo, não tem jeito. Mas de um modo geral, gostei. Eles apostaram em uma nova linguagem pra novela, câmeras vivas e muito próximas aos personagens, fazendo com que nos sentimos dentro da cena, iluminação mais sombrias. A direção da novela vem junto com o roteiro, se o roteiro se perdeu no caminho a direção vai junto.
A minha nota para esta novela é: 7
Ansioso agora pra ver a próxima novela inédita, que acredito ser só em 2022.
Espero que você tenha gostado da leitura.
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Texto: Fernando Oliveira
Ótima análise. No final ficou bem zuada mesmo. Tirou o público de idiota. Só o desfecho da Lurdes que interessava. Vlww